"MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO" - Análise dos Evangelhos

        Por que não queres, ó Pilatos, compreender a linguagem do Nazareno?

        Por que não vais à procura do seu reino?

        O seu reino não é deste mundo - mas é de um outro mundo...

        Não é do mundo, mas está no mundo - neste mundo em que vives....

        Não é como este mundo pueril de Tibério Cesar, que tu representas em terras da Judéia.

        Não é como os reinos humanos, defendidos com armas de aço, levantados sobre montanhas de cadáveres humanos, cimentados com o sangue dos homens e com as lágrimas de viúvas e orfãos.

        Não. O seu reino é o reino da verdade e da vida, o reino da justiça e da paz, o reino do amor e da alegria, o reino da graça e da glória.

        O seu reino é sustentado pelas colunas  eternas da razão e da fé.

        O teu reino, Pilatos, será varrido da face da terra, porque é deste mundo,  - o reino de Jesus não terá fim, porque não é deste mundo.

        Só resiste ao fluxo e refluxo das coisas terrenas o que não assenta alicerces na matéria.

        O que tem ponto de apoio fora do mundo sobrevive a todas as vicissitudes do tempo.

        Se não compreendes tão alta sabedoria, Pilatos, por que não te sentas aos pés daquele bandido  que crucificaste com o Nazareno? por que não escutas o que ele te diz, lá do alto da sua cátedra?

        "Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino..."

        Ouviste, excelentísimo governador da Judéia? ouviste, ó descrente profano, o que te diz aquele celerado?

        Ele crê no misterioso reino de seu colega de suplício. Crê num reino divino após-morte - num reino que não é deste mundo.

        Que és tu, erudito analfabeto, em face desse sábio?

        Êle crê, porque sofre - tu não crês- porque gozas.

        O sofrimento confere ao espírito humano estranha clarividência, sobrenatural sensibilidade.

        Como os raios ultra-violeta tornam visível o que é invisível à retina comum, assim desvenda a dor um mundo de belezas desconhecidas.

        O gôzo macula e embrutece - a dor purifica e espiritualiza ...

        "Que coisa é a verdade?" - dizes tu, encolhendo os ombros com céptico desdém.

        A verdade? pergunta ao bandido moribundo, êle te dirá o que é a verdade.

        A verdade é que há um reino que os profanos ignoram.

        A verdade é que, para entrar nesse reino, deve o homem "renascer".

        "O que nasce da carne é carne - o que nasce do espírito é espírito".

        Tu, Pilatos, só nasceste da carne - quando nescerás do espírito, como esse ladrão penitente, para compreenderes a verdade do reino que não é deste mundo?

        Nascerás algum dia para o mundo do espírito - ou acabarás morto no teu reino da matéria?