UMA ATITUDE DESCULPISTA

 

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Ouvimos pessoas dizerem: “- Bem, eu estou no Espiritismo faz dez anos, mas ainda não sou espírita. Eu sou neófito.” É uma atitude desculpista porque, para ser espírita, basta adotar os postulados da Doutrina Espírita: a crença em Deus, na imortalidade da alma, na comunicabilidade do Espírito, na reencarnação, na pluralidade dos mundos habitados, aceitar o Evangelho de Jesus – eis aí o código que define a criatura espírita. Poder-se-á dizer que não é um espírita perfeito, mas, sim, espírita, por estar esforçando-se para aplicar-se às suas lições. Outros se utilizam de ardis para escamotear o desinteresse pela transformação moral e pela realização de um mundo mais justo, dizendo sempre que são espiritualistas. Mas é óbvio que sendo espírita ele é espiritualista, mas sendo espiritualista não é, necessariamente, espírita. Naturalmente pode ser católico, protestante, budista, islamita; pode estar vinculado a qualquer corrente religiosa que aceite a imortalidade da alma, mas se moureja numa Casa Espírita e adota-lhe o conteúdo, torna-se-lhe exigível a definição, porquanto, uma atitude de comodidade das mais reprocháveis é a indefinição, que permite ao indivíduo enganar-se, na suposição de que está enganando aos outros.

O Apóstolo Paulo, com veemência, dizia: Gelado ou ardente, não morno. Hoje se diz na linguagem política: De um lado ou do outro, não em cima do muro. Aquele que fica no meio é pusilânime, que sempre adere ao vencedor. É um indivíduo neutro, negativo. Não corre riscos, mas também não progride. Não desenvolve a escala de valores éticos. Por isso, o Espiritismo nos impõe compromissos. Esses compromissos são as responsabilidades perante a consciência. É a conscientização da responsabilidade pelo comportamento adotado.

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Para que nos tornemos espiritistas, deveremos adotar a qualidade de uma pessoa de consciência. Cabe-nos pensar em parar, ler, e acabar com os mecanismos desculpistas, como: “- Os obsessores não me deixam ler; toda vez que pego num livro, me dá sono.”

Faça-o de pé, leia de joelhos... Quando eu era católico, passava toda quinta-feira santa maior defronte do altar do S. Sacramento, diante da lâmpada acesa, que representava a Eucaristia, de joelhos; quando cochilava, batia a cabeça no altar e acordava. Permanecia bem junto, para estar na vigília, porque eu acreditava que ali estava Jesus Cristo, em corpo e alma, conforme está nos Céus. Era uma questão de coerência. Na hora em que eu deixei de acreditar nessa ingênua informação, nunca mais me ajoelhei; libertei-me.

Devemos buscar a qualificação espírita, e tentar saber, realmente, o que é Espiritismo.

Pessoas há que frequentam uma Casa Espírita a vida inteira, e se nós perguntarmos: “- E Allan Kardec, o que você pensa dele?” “- Eu até já ouvi falar esse nome” – responderão...

Não basta ter ouvido falar nesse nome; é claro que o nome próprio de Allan Kardec é bastante complicado para o nosso idioma: Hippolyte Léon Denizard Rivail, mas o nome Allan Kardec é tão simples! Ele teve a sabedoria de escolher uma antonomásia, um pseudônimo dos mais simples, aquele com o qual codificou o Espiritismo. Muitos dizem, o fundador e até na sua tumba, no cemitério em Paris, no Pére Lachaise, está fundateur, fundador do Espiritismo. Ele não fundou, mas sim codificou, deu um código novo às ideias sempre conhecidas e esparsas, porque sempre houve o Espiritismo, isto é, a comunicação dos Espíritos, à qual ele deu dignidade moral, evangélica.

Deveremos qualificar-nos, esforçar-nos para poder adquirir a consciência espírita, e, claro,  procurar melhorar as qualidades morais, sociais, familiares, as funcionais e as de trabalhador da Casa Espírita.

Faz muitos anos, esteve em moda uma colocação, mediante a qual era muito importante a boa vontade, e durante muito tempo, dizíamos: “- Trata-se de uma pessoa de boa vontade”, referindo-nos a alguém... Eu me recordo que, naquele ocasião, os Espíritos me deram um ensinamento muito interessante, afirmando-me que Goethe, o célebre poeta alemão, escrevera que nada pior do que pessoas de boa vontade sem conhecimentos. Atrapalham muito mais do que ajudam.

Os senhores já imaginaram uma porção de pessoas de boa vontade na cozinha sem saber como cozinhar?! Cada uma dando um palpite... ou o mesmo grupo em qualquer outra atividade?!

A boa vontade é um elemento básico, mas não é o fator indispensável. Esse é a qualificação de quem trabalha. Ele pode até não ter boa vontade, mas tendo capacidade produz melhor. A opinião de um técnico, apesar de sua má vontade, porém portador de alta qualificação, evita desastres, e enquanto a colaboração da pessoa de boa vontade, desinformada ou sem qualificação, leva a prejuízos. A qualificação é muito importante. Saber o que fazer e como realizá-lo, para executar bem, é indispensável.

Isso não quer dizer que a pessoa deva ser excessivamente instruída, exageradamente técnica, mas, pelo menos, preparada.

 

Livro:  Novos Rumos Para o Centro Espírita

Divaldo Pereira Franco

LEAL - Livraria Espírita Alvorada Editora