MEDIUNIDADE CONSCIENTE

 

Forma Consciente:

É a mesma mediunidade erroneamente denominada intuitiva. O espírito comunicante aproxima-se do médium, não faz contacto perispiritual e, telepaticamente, transmite as idéias que deseja anunciar. O médium telepaticamente as recebe e, com palavras suas, fraseado, ademanes e estilo próprio seus, faz a transmissão com maior ou menor fidelidade e clareza.

Após a transmissão da idéia original, o espírito não pode influir na retransmissão porque não pode agir sobre o médium senão pelo pensamento.

Esta é a mediunidade dos tribunos, dos pregadores, dos catedráticos e, na forma escrita, dos escritores e poetas; a mediunidade, enfim, daqueles que manifestam “inspiração momentânea”.

É muito comum taxarem de mistificação uma comunicação qualquer porque o médium empregou palavras suas, termos que constantemente usa e às vezes de forma sistemática e invariável. Mas já dissemos que as palavras, o modo de coordena-las, o estilo, etc., devem ser seus mesmo; nem nada há que extranhar, neste caso, porque qualquer um de nós tambem se acostuma a falar de um certo modo, repetir certas palavras ou frases, fazer certos gestos. Há professores que abrem e encerram suas aulas sempre de determinada maneira e usando sistematicamente as mesmas frases; pregadores e tribunos que fazem sempre os mesmos gestos, usam das mesmas figuras, analogias e exemplos.

E há tambem espíritos que iniciam e encerram suas comunicações sempre do mesmo modo, saudando no início e no final, nos mesmos termos, sendo que isso, aliás, vem a servir justamente para identificá-los.

Outra cousa que criticam é o emprego pelo médium de termos chãos, muitas vezes inadequados, e erros de pronúncia e de concordância, etc. Isso tudo é muito natural porque nem todos os médiuns desta classe são cultos, havendo mesmo uma grande maioria que é inculta.

Neste caso, como falar corretamente, se quem fala é o médium e não o espírito? Ao espírito pertencem somente as idéias e não as palavras.

E isto somente quanto à forma, porque, quanto ao fundo, à essência, ao substrato, ainda pode suceder que o médium, recebendo uma idéia elevada, transcendente, para transmitir, não a compreenda bem, não penetre bem em seu verdadeiro sentido e venha a deturpá-la; como também no seu vocabulário acanhado e restrito não encontre palavras para expressá-la; ou ainda, mesmo vencendo todas estas dificuldades, venha a fracassar no delinear os limites, o alcance, o significado profundo da idéia, do que resultará expressá-la de forma rudimentar ou insuficiente.

E se o médium for culto, pode tambem suceder que a falha seja do espírito comunicante: se este for atrasado, ignorante, inculto, como poderá transmitir cousas elevadas, requintadas?

Nesta classe de mediunidade é sempre preferível, todavia, que o médium seja culto porque assim terá mais facilidade e eficiência para traduzir, através um entendimento amplo e um vocabulário rico, as idéias transmitidas telepaticamente pelo espírito, já que a forma de transmissão telepática é essencialmente sintética.

Como se vê, do que fica dito, tanto o médium como o espírito, nestes casos de mediunidade consciente, cada um faz o que pode, cumpre o seu dever nos limites de suas possibilidades individuais; mas o que importa saber sobretudo é que: se a idéia central transmitida pelo espírito não foi modificada, deturpada, a comunicação é autêntica e perfeitamente aceitavel.

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Esta forma de mediunidade consciente é aquela que mais permite interferência dos fatores sub-conscientes do médium, que se costuma denominar de “animismo” e que tem servido de motivo para se bater, injustamente, na tecla da mistificação; mas, pelo modo segundo o qual consideramos a mediunidade, bem se vê que isso não tem importância alguma. Não importa, repetimos, que entrem na transmissão elementos, de forma ou de fundo, que venham do próprio médium, já que é de sua propria capacidade individual ou pessoal que se aguarda a melhor ou pior maneira de veicular a idéia do espírito comunicante. É claro que ele, médium, será obrigado a lançar mão de todos o elementos que possuir para cumprir sua tarefa da melhor forma possível.

E àqueles que, por ignorância do assunto, são facéis em admitir a mistificação por parte dos médiuns conscientes; e aos próprios médiuns conscientes que, por uma questão de escrúpulo, duvidam de si mesmos e muitas vezes, por isso, se abstêm do trabalho mediúnico, cabe aqui perguntar como se pode saber, com segurança, onde termina a influência exercida pelo espírito, no ato do trabalho mediúnico, sobre o medlum, e onde começa a interferênca deste, nos casos em que ela se dá?

Por outro lado, se animismo é interferência de elementos vindos da alma do médium, e excluída a mistificação deliberada, representará o animismo algo pernicioso à manifestação da mediunidade, ou à autenticidade do fenômeno espirita?

Cremos que não e até concluímos pela negativa porque, neste caso, quanto mais animismo mais sensibilidade e quanto mais sensibilidade mais mediunidade.

 

Livro:  Mediunidade – Seus Aspectos, Desenvolvimento e Utilização