A IGREJA CATÓLICA E O DOGMA DAS PENAS ETERNAS

 

    (...) quem deve estar mais convencido das penas eternas, senão os que são alimentados no seio da Igreja? Ora, dizei por que essa perspectiva não deteve todos os escândalos, todas as atrocidades, todas as prevaricações contra as leis divinas e humanas, que pululam na História e se reproduzem incessantemente em nossos dias? São crimes ou não? Se, pois, os que fazem profissão desta crença não são tolhidos em suas ações, como querer que o sejam os que não creem? Não; ao homem esclarecido de nossos dias é preciso outro freio: aquele que sua razão admite. Ora, a crença nas penas eternas, talvez útil em outras épocas, está superada; extingue-se dia a dia e, por mais que fizerdes, não dareis vida a um cadáver nem fareis reviver os usos, costumes e ideias da Idade Média. Se a Igreja Católica julga sua segurança comprometida pelo desaparecimento dessa crença, devemos lamentá-la por repousar sobre base tão frágil, porque, se algo a atormenta, este é o dogma das penas eternas.

 

Livro:  Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos - Ano VI, 1863

(nº 5 - maio de 1863)

Allan Kardec

FEB - Federação Espírita Brasileira