Reflexão

 

 

Responsabilidade da palavra

 

 

 

Tivemos notícia de que um escritor americano travou, em determinada época, uma verdadeira batalha verbal com o diretor de um filme.

É que um amigo do escritor foi assassinado por um casal que se inspirou nos dois personagens psicopatas do filme daquele diretor.

Uma outra manchete nos dá ciência de que dois garotos de 11 anos aproveitaram um descuido da mãe de um menino de apenas dois anos e o levaram para um passeio.

Dias depois, o corpo do garotinho foi encontrado estraçalhado na linha do trem. Igualzinho ao filme que os dois haviam assistido, alguns dias antes, por diversas vezes.

Tais matérias nos levam a ponderar acerca da responsabilidade do que escrevemos, criamos e entregamos para divulgação.

Certamente, assuntos que defendamos, temas que veiculemos, promoverão pensamentos e atos nas pessoas que deles tomarem conhecimento.

Se fomentarmos a violência, a agressão, o desrespeito, naturalmente o que vierem as criaturas a realizar, em nome deles, é de nossa responsabilidade.

Por isso mesmo, advertiu Jesus: Seja o vosso falar sim, sim; não, não. O que quer dizer definir posições e assumir responsabilidades.

Nós somos responsáveis pelas imagens que projetamos nas mentes alheias. Se incentivarmos ao mal, este nos atingirá como Lei de Causa e Efeito, e o mesmo se dará se divulgarmos o bem.

Esmerarmo-nos, assim, na criação e divulgação de conceitos positivos, benéficos, em síntese, fará bem a nós mesmos.

Francisco de Assis, um dia, escreveu poemas de amor à natureza. Chamou de irmãos ao sol, à lua, às estrelas, à água.

Poderemos acaso aquilatar o quanto de serenidade semeou com tais versos?

Quantas criaturas, até hoje, transcorridos os séculos, os leem e repetem?

Somos tão responsáveis pelo que sai de nós que Jesus alertou para a gravidade da falta de alguém escandalizar a algum dos pequenos.

E pequenos não são somente as crianças mas nós, Espíritos ainda imersos na ignorância e com grandes facilidades de sintonizarmos com o mal.

Assim sendo, falemos o bem. Escrevamos o bem com as palavras simples que brotam do nosso coração afeiçoado ao bem.

Teçamos versos delicados que exaltem o belo, que falem de Deus, da ventura de viver, da imortalidade, da alegria de ser herdeiro do Universo.

 

 

*   *   *

Pela palavra e pelos exemplos Gandhi libertou um povo. Sua filosofia se baseava na não violência.

Pelos discursos e atos, um déspota infelicitou muitos povos.

Falamos de Hitler, que semeou desgraças em grande parcela da Humanidade.

Ambos viveram no mesmo século XX.

Redação do Momento Espírita com base no artigo
As notícias, da Revista O Espírita de jan/mar 97.
Em 17.10.2009.

 

 

 

 

Um Deus

 

 

 

 
Um Deus
 
Milhões de estrelas colocadas nos céus... por um Deus.
Milhões de nós levantamos nossos olhos a um Deus.
Muitas crianças O chamam por muitos nomes diferentes...
Um Pai, que ama a cada um por igual.
 
Muitas formas diferentes que oramos a um Deus.
Muitas são as trilhas que se juntam no caminho a um Deus.
Irmãos e irmãs – nenhum é estranho depois que Deus terminou Sua criação.
Porque seu Deus e meu Deus é um Deus.
*   *   *
Os versos são a tradução livre de uma canção interpretada pela cantora Barbra Streisand.
É interessante se observar como tantos cantores, no mundo, têm se referido a Deus, ao Criador. São criaturas que, na Terra, interpretam as vozes dos céus, conclamando os homens à fraternidade.
Em verdade, muitos dos que se dizem religiosos se enclausuram em suas crenças e excluem do amor de Deus os demais seres humanos.
E, contudo, só há um Deus. Um Deus que a todos criou, que a todos ama, não importando a forma com que seja ou não reverenciado.
Um Deus que sabe que cada filho Seu se encontra em estágio evolutivo diverso e, por isso mesmo, tem diferente entendimento a respeito do Seu Criador.
Somos nós, os seres pequenos da Criação que nos arvoramos em grandezas e criamos exclusividades, elegemos preconceitos e fazemos seleções de quem deve ou não ser credor das heranças do Universo.
Somos nós, os homens, que nos separamos em religiões, quando elas deveriam, em verdade, nos unir.
Porque, afinal, todos aspiramos pela felicidade. Todos desejamos nos alçar ao Pai, ao Criador. Todos almejamos um lugar de paz e de amor. Um aconchego. Um paraíso.
E as religiões existem para exatamente nos mostrar o caminho para tal ventura.
Deus é um só. Criador do Universo que descobrimos, a pouco e pouco, extasiando-nos. É o Pai dos seres que criou à Sua imagem e semelhança.
*   *   *
O seu Deus e o meu Deus é um só Deus.
Tenhamos isso em mente. E nos amemos, auxiliando-nos mutuamente.
Façamos a listagem das maravilhas do Universo e nos sintamos felizes em saber que tudo isso é compartilhado com todos os filhos de Deus.
Filhos desta Terra, do nosso Sistema Solar, filhos que vivam em dimensões nem imaginadas por nós, nem alcançadas pela nossa ciência – todos são herdeiros das grandezas da Criação.
Um Deus. Amor, justiça e luz.
Um Deus. Pai benevolente, pródigo de bênçãos.
Um Deus que nos aguarda, no lar celeste.
Um Deus que nos observa as lutas, perdoa nossas quedas e aguarda que cresçamos até alcançá-Lo.
 
Redação do Momento Espírita com citação de versos da
 canção One God, interpretada por Barbra Streisand.
Em 26.10.2009.

 

 

 

 

 

 

Irmão Jacob

 

“(...) Os professores são incansáveis em esclarecer que na reencarnação temos o mais valioso instituto iluminativo, acentuando que, na realidade, todas as lutas, terrestres objetivam redimir o Espírito e inflama-lo de virtudes celestiais. Acrescentam, no entanto, que, chegado ao santuário do corpo físico, o homem olvida os imperativos de sua permanência nos vários degraus da preparação e passa a perseguir inutilidades ou vantagens efêmeras, quando se não arvora em observador tirânico, ou impiedoso crítico dos próprios irmãos de luta. Vicia a mente na ociosidade, em face da gloriosa bênção recebida, e, muita vez, abandona a escola da carne, em deploráveis condições morais, pelos débitos assumidos nos maus usos do livre-arbítrio perante as leis inelutáveis que governam a vida. (...)”.

 

Da Obra “VOLTEI“ – Espírito: IRMÃO JACOB – Médium: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

 

 

 

REVELAÇÕES PREMATURAS

 

 

 

    (...)

A matéria e o espírito são duas realidades, a nosso ver, sem fronteiras absolutas. Não sabemos, ainda, onde começa uma e termina o outro. Na crosta da Terra, as descobertas permanecem incipientes. Somente agora é que a mente honesta e indagadora enceta o labor da perquirição justa. A matéria, para vocês, é por enquanto tão “nebulosa” quanto o espírito em si mesmo e em “nosso lado” o avanço das inteligências de minha condição não vai muito além das linhas em que os seus próprios conhecimentos permanecem situados. De modo geral, chegamos ao “plano imediato ao dos encarnados” em dilacerante posição mental. O fenômeno “dor”, sob variados matizes, não dá largos ensejos à penetração nos domínios da sabedoria e quando o desequilíbrio dessa ordem não predomina, quando é possível estabelecer relativa tranquilidade no coração, as exigências do amor nem sempre nos permitem a atenção concentrada com tais assuntos.

Para a maioria dos habitantes do meu círculo de ação o tempo é escasso para organizar o “recomeço”, tanto quanto para vocês aí as horas são demasiadamente exíguas para o trato com todas as questões concernentes à “partida para cá”. E nesses imperativos de reforma íntima, objetivando-se maior aproveitamento da oportunidade futura, não há ensanchas para trabalhos analíticos. Afirmo, porém, a você que a eletricidade e o magnetismo estão por agora apenas levemente vislumbrados entre os homens e que a matéria que lhes serve de base à luta evolutiva ainda é grande desconhecida. Leis de vibração presidem a integração e a desintegração dos átomos em todos os ângulos da vida e em nos referindo ao assunto estimaria poder transmitir-lhes certas lições que vamos estudando sobre os poderes do pensamento. Esses poderes são tão grandes e de tamanha importância sobre a vida material em todos os reinos da natureza – a visível e a invisível – que não nos é dado expressar algumas de nossas experiências em terminologia terrestre, porque não só nos faltam recursos analógicos para o cometimento, como também as ordenações superiores acreditam que a revelação perturbaria o clima do progresso humano, por prematura e suscetível de favorecer a ignorância e a maldade. Creia, porém, que os fenômenos de “conversão”, como denominamos as trocas entre os dois planos, se verificam incessantemente. Pelo crivo da química orgânica, milhões de vidas surgem aqui por morrerem aí, e vice-versa. O movimento é constante. Não há paradas na ação, tanto quanto não há hiatos no espaço.

(...)

Eu sei que com essas observações não trouxe à superfície qualquer definição técnica ou particularizada com respeito à matéria, mas o “modus operandi” das agregações e desagregações atômicas não pode mesmo, agora, ainda que lhes guardássemos todas as chaves, ser oferecido à apreciação geral. Urge preparar, estudar e aperfeiçoar muitos aspectos da experiência em que marchamos. Baste-nos, por enquanto, a consoladora certeza de que cada espírito é pai e filho das próprias obras e que sendo livre para fazer é constrangido a suportar os efeitos ou obrigado a recolher os frutos de suas ações felizes, compreendendo-se, pois, que nós todos somos independentes na sementeira e escravos na colheita. Essa é a grande lição que estou aprendendo e que desejo sempre progressiva. Não podemos trair a natureza, ainda mesmo quando se cogite de obras beneficiárias do campo coletivo. (...)

 

23 de novembro de 1949

 

Livro:  Colheita do Bem

            Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Neio Lúcio,

            organização de Wanda Amorim Joviano

            Vinha de Luz Serviço Editorial

 

 

 

 

ESCAMAS

 

 

“E logo lhe caíram dos olhos como que

umas escamas, e recuperou a vista.”

(Atos, 9:18)

 

          A visita de Ananias a Paulo de Tarso, na aflitiva situação de Damasco, sugere elevadas considerações.

          Que temos sido nas sombras do pretérito senão criaturas recobertas de escamas pesadas sob todos os pontos de vista? Não somente os olhos se cobriram de semelhantes excrescências. Todas as possibilidades confiadas a nós outros hão sido eclipsadas pela nossa incúria, através dos séculos. Mãos, pés, língua, ouvidos, todos os poderes da criatura, desde milênios permanecem sob o venenoso revestimento da preguiça, do egoísmo, do orgulho, da idolatria e da insensatez.

          O socorro concedido a Paulo de Tarso oferece, porém, ensinamento profundo. Antes de recebê-lo, o ex-perseguidor rende-se incondicionalmente ao Cristo; penetra a cidade, em obediência à recomendação divina, derrotado e sozinho, revelando extrema renúncia, onde fora aplaudido triunfador. Acolhido em hospedaria singela, abandonado de todos os companheiros, confiou em Jesus e recebeu-lhe a sublime cooperação.

          É importante notar, contudo, que o Senhor, utilizando a instrumentalidade de Ananias, não lhe cura senão os olhos, restituindo-lhe o dom de ver. Paulo sente que lhe caem escamas dos órgãos visuais e, desde então, oferecendo-se ao trabalho do Cristo, entra no caminho do sacrifício, a fim de extrair, por si mesmo, as demais escamas que lhe obscureciam as outras zonas do ser.

          Quanto lutou e sofreu Paulo, a fim de purificar os pés, as mãos, a mente e o coração?

          Trata-se de pergunta digna de ser meditada em todos os tempos. Não te esqueças, pois, de que na luta diária poderás encontrar os Ananias da fraternidade, em nome do Mestre; aproximar-se-ão, compassivos, de tuas necessidades, mas não olvides que o Senhor apenas permite que te devolvam os olhos a fim de que, vendo claramente, retifiques a vida por ti mesmo.    

 

Livro:  Vinha de Luz

Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel

FEB – Federação Espírita Brasileira

 

 

 

 

 

 

 

FÉ, TRABALHO E MERECIMENTO

 

 

 A fé vitoriosa é aquela que procura no trabalho o merecimento indispensável à realização que pretende atingir.

Esperança ociosa é simples divagação.

Vejamos o ensinamento expressivo da Natureza, afim de que não nos demoremos sob a neblina das fantasias e dos sonhos, retardando o próprio passo, indefinidamente, no vale escuro da indecisão.

A semente decerto guarda consigo o plano precioso da árvore veneranda que será um dia, mas, para isso, aceita a humilhação de si mesma na intimidade do solo, e, desde a própria germinação, não perde tempo em digressões descabidas, de vez que aproveita o sol e a chuva, o orvalho e o vento para crescer, florir e frutificar, sem repouso.

A fonte, sem dúvida, conserva em seu nascimento o projeto sublime de arrojar-se à excelcitude do oceano, entretanto, para equacionar semelhante problema, não se imobiliza no viciado espelho do charco. Avança, humilde e resignada, beneficiando montes e planícies, plantas e animais, aderindo aos ribeiros e aos rios, em cujo seio abençoado e fecundo atinge a serenidade gloriosa do mar imenso.    

Tudo, na vida universal, é harmonia que decorre do trabalho vivido, em sua mais elevada expressão.    

Todos os seres irmanam-se, uns aos outros, no plano gigantesco da perfeição que nos escapa, por agora, em sua visão magnificente de conjunto, e, para escalarmos os domínios da felicidade e da luz, é imprescindível atender à função que nos compete, no mecanismo da existência.     

Se procuras, assim, entesourar a fé, não acredites possas faze-lo, namorando altares de pedra ou cultivando exclusivismo que será sempre adoração a nós mesmos nas linhas congeladas do menos esforço.

Busquemos o lugar de serviço que o mundo nos reserva.

Esqueçamos conveniências pessoais e apelos inferiores que nos compelem a viver entre os tóxicos letais do tempo perdido.

Lembremo-nos de que a vela acesa dentro da noite é infinitamente mais valiosa que o lustre de ouro e diamantes, lamentavelmente apagado.   

Trabalhemos hoje para merecer amanhã.

E, nesse programa de crescimento espiritual para a eternidade, a fé viva será luz do Senhor brilhando no templo de nossa alma, valendo-se do divino combustível de nosso próprio coração.   

 

Livro:  Intervalos

Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel

Casa Editora O Clarim

 

 

 

APONTAMENTOS DO ANCIÃO

 

Em face dos aborrecimentos que lhe fustigavam o espírito, ante a opinião pública a desvairar-se em torno de sua memória, humilde “jornalista morto” ouviu sereno ancião, que lhe falou com sabedoria:

– Quando Jesus transformou a água em vinho, nas bodas de Caná, os maledicentes cochicharam, em derredor:
– Que é isto? um messias, incentivando a embriaguez?

Mais tarde, em se reunindo aos pescadores da Galiléia, a turba anotou, inconsciente:
– É um vagabundo em busca de pessoas tão desclassificadas quanto ele mesmo. Porque não procura os principais?

Logo às primeiras pregações, a chusma dos ignorantes, ao invés de reconhecer os benefícios da Palavra Divina, comentou, irreverente:
– É insubmisso. Vive sem horários, sem disciplinas de serviço.

À vista da multiplicação dos pães e dos peixes, a massa não se comoveu quanto seria de esperar, Muita gente perguntou, franzindo sobrancelhas:
– Como? um orientador sustentando ociosos?

Limpando as feridas de alguns lázaros que o buscavam, afirmou-se, em surdina:
– Vale-se da insensatez dos tolos para impressionar!

E quando o viram curar um paralítico, no sábado, consideraram os inimigos gratuitos:
- Agride publicamente a Lei.

Por aceitar a consideração afetuosa de Maria de Magdala, murmuraram os maledicentes:
– É desordeiro comum. Não consegue nem mesmo afivelar a máscara ao próprio rosto, dando-se à companhia de vil criatura, portadora de sete demônios.

Ao valer-se da contribuição de nobres senhoras, qual Joana de Cusa, no desdobramento do apostolado, soavam exclamações como estas:
– É um explorador de mulheres piedosas!

- Vive do dinheiro dos ricos, embora passe por virtuoso!

Porque se demorasse alguns minutos, junto de publicanos pecadores, a fim de ensinar-lhes a ciência de renovação íntima, acusavam-no, sem compaixão:
– É um gozador da vida como os outros!

Se buscava paisagens silenciosas para o reconforto na oração, gritava-se com desrespeito:
– Este é um salvador solitário, orgulhoso demais para ombrear com o povo.

Como se aproximasse da samaritana, com o propósito de socorrer-lhe a alma, indagou-se com malícia:
– Que faz ele em companhia de mulher que já pertenceu a vários maridos?

Atendendo às súplicas de um centurião cheio de fé, a leviandade intrigou:
- É um adulador de romanos desbriados.

Visitando Zaqueu, escutou apontamentos irônicos:
– É um pregador do Céu que se garante com os poderosos senhores da Terra...

Abraçando o cego de Jericó, registrou a inquirição que se fazia ao redor de seus passos:
– Que motivos o prendem a tanta gente imunda?

Penetrando Jerusalém no dia, festivo, e impossibilitado de impedir o regozijo de quantos confiavam em seu ministério, afrontou sentenças sarcásticas:
– Fora com o revolucionário! Morte ao falso profeta!...

Censurando o baixo comercialismo do grande Templo de Salomão, dele disseram abertamente:
– É criminoso perseguidor de Moisés.

Levantando Lázaro no sepulcro, gritavam não, longe:
– É Satanás em pessoa!...

Reunindo os companheiros na última ceia, para as despedidas, e lavando-lhes os pés, observaram nas vizinhanças do cenáculo:
– É pobre demente.

Ao se deixar prender sem resistência, objetou a multidão :
– É covarde! comprometeu a muitos e foge sem reação!

Recebendo o madeiro, berraram-lhe aos ouvidos:
– Desertor! pagarás teus crimes!

No martírio supremo, era apostrofado sem comiseração:
– Feiticeiro! de onde virão teus defensores?

Torturado, em plena agonia, ouviu de bocas inúmeras:
– Salva a ti mesmo e desce da cruz!

E antes que o cadáver viesse para os braços maternos, trêmulos de angústia, muita gente regressou do Gólgota, murmurando:
– Teve o fim que merecia, entre ladrões.

O velhinho fez intervalo expressivo e ajuntou:
– Como sabe, isto aconteceu com Jesus-Cristo, o Divino Governador Espiritual do Planeta.

Sorriu, afável, e rematou:
– Endividados como somos, que devemos aguardar, por nossa vez, das multidões da Terra?

Foi, então, que vi o pobre escritor desencarnado exibir uma careta de alegria, que se degenerou em cristalina e saborosa gargalhada...



pelo Espírito Irmão X - Do livro: Luz Acima, Médium: Francisco Cândido Xavier.

 

 

 

VISÃO DE ADULTO... VISÃO DE CRIANÇA...

 

Éramos a única família no restaurante com uma criança. Eu coloquei Daniel numa cadeira para crianças e notei que todos estavam tranqüilos, comendo e conversando.
     De repente, Daniel gritou animado, dizendo: 'Olá, amigo!', batendo na mesa com suas mãozinhas gordas. Seus olhos estavam bem abertos pela admiração e sua boca mostrava a falta de dentes.
Com muita satisfação, ele ria, se retorcendo.
     Eu olhei em Volta e vi a razão de seu contentamento. Era um homem andrajoso, com um casaco jogado nos ombros, Sujo, engordurado e rasgado. Suas calças eram trapos com as costuras abertas até a metade, e seus dedos apareciam através do que foram, um dia, OS sapatos. Sua camisa estava suja e seu cabelo não havia sido penteado por muito tempo. Seu nariz tinha tantas veias que parecia um mapa.
     Estávamos um pouco longe dele para sentir seu cheiro, mas asseguro que cheirava mal.
     Suas mãos começaram a se mexer para saudar.
'Olá, neném. Como está você?', disse o homem a Daniel.
     Minha esposa e eu nos olhamos: 'Que faremos?'.
Daniel continuou rindo e respondeu, 'Olá, olá amigo'.
     Todos no restaurante nos olharam e logo se viraram para o mendigo. O velho sujo estava incomodando nosso lindo filho.
     Trouxeram a comida e o homem começou a falar com o nosso filho como um bebê.
Ninguém acreditava que o que o homem estava fazendo era simpático. Obviamente, ele estava bêbado.
     Minha esposa e eu estávamos envergonhados. Comemos em silêncio; menos Daniel que estava super inquieto e mostrando todo o seu repertório ao desconhecido, a quem conquistava com suas criancices.
     Finalmente, terminamos de comer e nos dirigimos à porta. Minha esposa foi pagar a conta e eu lhe disse que nos encontraríamos no estacionamento.
     O velho se encontrava muito perto DA porta de saída.
     'Deus meu, ajuda-me a sair daqui antes que este louco fale com Daniel', disse orando, enquanto caminhava perto do homem. Estufei um pouco o peito, tratando de sair sem respirar nem um pouco do AR que ele pudesse estar exalando. Enquanto eu fazia isto, Daniel se voltou rapidamente na direção onde estava o velho e estendeu seus braços na posição de 'carrega-me'. Antes que eu pudesse impedir, Daniel se jogou dos meus braços para OS braços do homem.
     Rapidamente, o velho fedorento e o menino consumaram sua relação de amor.
     Daniel, num ato de total confiança, amor e submissão, recostou sua cabeça no ombro do desconhecido.     O homem fechou OS olhos e pude ver lágrimas correndo por sua face. Suas velhas e maltratadas mãos, cheias de cicatrizes, dor e trabalho duro, suave, muito suavemente, acariciavam as costas de Daniel.
     Nunca dois seres haviam se amado tão profundamente em tão pouco tempo.
     Eu me detive, aterrado. O velho homem, com Daniel em seus braços, por um momento abriu seus olhos e olhando diretamente nos meus, me disse com voz forte e segura: 'Cuide deste menino'.
     De alguma maneira, com um imenso nó na garganta, eu respondi: 'Assim o farei'.
     Ele afastou Daniel de seu peito, lentamente, como se sentisse uma dor. Peguei meu filho e o velho homem me disse: 'Deus o abençoe, senhor. Você me deu um presente maravilhoso'.
     Não pude dizer mais que um entrecortado 'obrigado'. Com Daniel nos meus braços, caminhei rapidamente até o carro. Minha esposa perguntava por que eu estava chorando e segurando Daniel tão fortemente, e por que estava dizendo: 'Deus meu, Deus meu, me perdoe'.
     Eu acabava de presenciar o amor de Cristo através DA inocência de um pequeno menino que não viu pecado, que não fez nenhum juízo; um menino que viu uma alma e uns adultos que viram um montão de Roupa suja. Eu fui um cristão cego carregando um menino que não o era. Eu senti que Deus estava me perguntando: 'Estás disposto a dividir seu filho por um momento?', quando Ele Compartilhou Seu Filho por toda a eternidade.
     O velho andrajoso, inconscientemente, me recordou:

Eu asseguro que aquele que não aceite o reino de Deus como um Menino, não entrará nele.' (Lucas 18:17).
 

Apenas repita esta frase e verá como Deus se move:

'Senhor Jesus Cristo, te amo e te necessito, entre em meu coração, por favor'.
Passe esta mensagem a algumas pessoas especiais.

Não porque você receberá um milagre amanhã.
Mas porque você recebe o milagre todos OS dias...

 

O milagre de estar vivo...

 

 

AS APARÊNCIAS

 

 

- Já viste, filhinha amada,

Uma árvore frutífera,

Por exemplo, a laranjeira,

De frutos abarrotada?

 

Entre todos, um maior,

Em tamanho e mais formoso,

Nos parece apetitoso

E de agradável sabor.

 

Mas o fruto desejado

Muitas vezes é perdido,

Pois vemo-lo apodrecido,

Completamente estragado!

 

Eis uma realidade

Em nosso pobre viver:

Às vezes, vê-se o prazer

Onde existe a falsidade.

 

Uns buscam no luxo vão

A sua grande alegria,

Mas numa triste ironia

Encontram desilusão!

 

Afinal, a maioria

Dos humanos na existência

Só procura na aparência

O gozo de todo o dia.

 

A excessiva ocupação

Com o corpo, que breve passa,

É a nossa grande desgraça,

A nossa triste ilusão!

 

Pois o corpo é o instrumento

Onde se deve aprender

O segredo de viver

No nosso aperfeiçoamento.

 

Isto é, ele é o cadinho

Onde a alma se depura

E da vida, pela altura,

É inevitável caminho.

 

Devemos ter mais cuidado,

Pois, com o nosso coração,

Conduzindo-o à perfeição,

Tornando-o aprimorado!

 

Só devemos dar guarida

Aos mais nobres sentimentos,

A formosos pensamentos

E tornaremos a vida

 

Em róseo mar de venturas,

Que são belas, verdadeiras,

Em esperanças fagueiras,

Em alegrias mais puras.

 

Cultivar o interior

É o nosso maior dever.

Deve ser nosso prazer,

O nosso mais santo amor!

 

Pois da vida, na caudal,

Enquanto o corpo perece

Nossa alma permanece

Eternamente imortal!

 

16 de fevereiro de 1930

 

Livro:  Lições Para Angelita

            Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito João de Deus,

organização de João Marcos Weguelin

            Vinha de Luz Serviço Editorial

 

ENDIREITAI OS CAMINHOS

 

 

“Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.” — João
Batista. (JOÃO, capítulo 1, versículo 23.)


A exortação do Precursor permanece no ar, convocando os homens de
boa-vontade à regeneração das estradas comuns.
Em todos os tempos, observamos criaturas que se candidatam à fé, que
anseiam pelos benefícios do Cristo.
Clamam pela sua paz, pela presença
divina e, por vezes, após transformarem os melhores sentimentos em
inquietação injusta, acabam desanimadas e vencidas.
Onde está Jesus que não lhes veio ao encontro dos rogos sucessivos? em que esfera longínqua permanecerá o Senhor, distante de suas amarguras?
Não compreendem que, através de mensageiros generosos do seu amor, o Cristo se encontra, em cada dia, ao lado de todos os discípulos sinceros.
Falta-lhes dedicação ao bem de si mesmos. Correm ao encalço do Mestre Divino, desatentos ao conselho de João: “endireitai os caminhos”.

Para que alguém sinta a influência santificadora do Cristo, é preciso retificar a estrada em que tem vivido. Muitos choram em veredas do crime, lamentam-se nos resvaladouros do erro sistemático, invocam o céu sem o
desapego às paixões avassaladoras do campo material.
Em tais condições,
não é justo dirigir-se a alma ao Salvador, que aceitou a humilhação e a cruz
sem queixas de qualquer natureza.
Se queres que Jesus venha santificar as tuas atividades, endireita os caminhos da existência, regenera os teus impulsos.
Desfaze as sombras que te
rodeiam e senti-lo-ás, ao teu lado, com a sua bênção.

 
Emmanuel

 



 

 

 

 

CORRIGENDAS

 

 

 

“Porque o Senhor corrige ao que ama e açoita a qualquer que recebe por filho.”

- Paulo (Hebreus, 126)

 

          Quando os discípulos do Evangelho começam a entender o valor da corrigenda, eleva-se-lhes a mente a planos mais altos da vida.

          Naturalmente que o Pai ama a todos os filhos, no entanto, os que procuram compreendê-lo perceberão, de mais perto, o amor divino.

          Máxima identificação com o Senhor representa máxima capacidade sentimental.

          Chegando a essa posição, penetra o espírito em outras zonas de serviço e aprendizado.

          A princípio, doem-lhe as corrigendas, atormentam-no os açoites da experiência, entretanto, se sabe vencer nas primeiras provas, entra no conhecimento das próprias necessidades e aceita a luta por alimento espiritual e o testemunho de serviço diário por indispensável expressão da melhoria de si mesmo.

          A vida está repleta de lições nesse particular.

          O mineral dorme.

          A árvore sonha.

          O irracional atende ao impulso.

          O homem selvagem obedece ao instinto.

          A infância brinca.

          A juventude idealiza.

          O espírito consciente esforça-se e luta.

          O homem renovado e convertido a Jesus, porém, é o filho do céu, colocado entre as zonas inferiores e superiores do caminho evolutivo. Nele, o trabalho de iluminação e aperfeiçoamento é incessante; deve, portanto, ser o primeiro a receber as corrigendas do Senhor e os açoites da retificação paterna.

          Se te encontras, pois, mais perto do Pai, aprende a compreender o amor da educação divina.

 

Livro:  Vinha de Luz

Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel

FEB - Federação Espírita Brasileira

 

TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS, PSICOLÓGICOS OBSESSIVOS

(...) ocorrem os transtornos psiquiátricos, psicológicos e obsessivos, cada dia mais numerosos, em alerta claro quanto insofismável para todas as criaturas.

Expressam-se em alienações mentais, em transtornos emocionais, em obsessões puras e simples, agravando-se quando se mesclam as problemáticas fisiológicas, psíquicas com as espirituais, complicando o quadro da psicopatologia difícil de ser erradicada.

Em todas elas o paciente desempenha um papel relevante, sendo a sua cura o resultado de imprescindível contribuição pessoal, ao lado da assistência que deve receber, tanto a especializada quanto a afetiva dos familiares e amigos aos quais se encontra vinculado.

Ninguém que se encontre a sós em qualquer processo alienatório. Isto porque, os comprometimentos negativos igualmente têm lugar com parcerias indentificadas com o fenômeno.

Por essa razão,  quando alguém tomba nas malhas dos desequilíbrios mentais e espirituais, no seio de qualquer família, gerando sofrimento para outrem, não se trata de ocorrência casual, mas causal. Naquele grupo, encontram-se outros espíritos que participaram das mesmas infames refregas ora em recomposição.

As divinas leis são inexoráveis, porquanto funcionam com estável critério de justiça e sem qualquer privilégio para quem quer que seja.

A cada ação corresponde uma reação de idêntico efeito.

O grupo familiar é santuário de renovação coletiva, onde todos os membros se encontram para crescer juntos, reconciliar-se, aprender a servir e a ampliar a capacidade de amar.

O calceta de hoje é o líder do crime de ontem que arrastou outros inconsequentes para as suas fileiras perversas. Reunidos novamente, devem-se ajudar no processo de libertação em que se encontram comprometidos.

 

Livro:  Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos

Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda

LEAL – Livraria Espírita Alvorada Editora

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

 

 

NÓS, MAUS RECEPTORES DA NATUREZA

  (...)

Esperemos o melhor, fazendo da vida um cântico à grandeza de Deus, que tudo nos concede em tamanho família: sol transbordante, chuvas quase de incalculável dimensão, mar grande e variado, rios imensos, árvores que resistem a todas as espoliações para se nos mostrarem na condição de escravas de nossos desejos. Digo isso para que ninguém me venha falar de crise.

Deus é bondade perfeita; de nossa parte, somos maus receptores, porque a nossa inércia no mundo não nos consente os grandes saques honestos de forças da natureza. Respiramos o mínimo de ar, quando nos seria lícito sorver os manjares aéreos a longos haustos.

E assim vamos vivendo. Bastar-nos-á querer e com algum trabalho, para não cairmos na moleza total, pois Deus já nos concede o super-suficiente para sermos felizes.  

 

Marcelo Antônio La Serra

(1967-1983)

6 de abril de 1984

 

Livro:  Caravana de Amor

            Francisco Cândido Xavier, por Espíritos Diversos,

            Hércio Marcos Cintra Arantes

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

 

Doando para ser feliz

Ele era um homem bem sucedido naquela aldeia da Finlândia. Alfaiate, sustentava com seu trabalho a esposa e os filhos, até o dia em que uma grande epidemia matou todos os seus amores. Ficou só e por essa razão deixou de trabalhar.

Dentro em breve ninguém mais o reconhecia andando pelas ruas, maltrapilho e triste. Era um homem amargurado.

Embora os cânticos do natal se fizessem ouvir em todas as esquinas, ele continuava mergulhado em sua tristeza.

De repente se viu defronte a uma grande vitrine, cheia de brinquedos. Um garoto pobre olhava com desesperança e desilusão as coisas bonitas e vistosas.

O homem pareceu ouvir em sua intimidade o que pensava o garoto: eu nunca saberei o que é ter brinquedos tão bonitos assim.

O antigo alfaiate começou a chorar, pela primeira vez em muito tempo, não por si mesmo mas pelo menino. Pensou em quantas crianças como aquela existiriam em sua aldeia. Pobres que não teriam nenhum brinquedo naquele Natal.

Sem pensar por onde andava, ele foi seguindo por caminhos desconhecidos. Então, se viu diante de um barraco onde as pessoas da aldeia jogavam lixo e bugigangas.

Coisas que não queriam mais.

Entrou, sem bem saber porque. Mas parecia que alguém lhe comandava os gestos. E agora, lhe dizia, bem dentro do seu coração:

Veja!

Procure entre as bugigangas o que possa ser consertado. Leve para casa e conserte. Pinte. Presenteie. Faça uma criança feliz.

Ele começou a remexer os entulhos. Havia bonecas, carrinhos, e maravilha!

Encontrou até um caixote de ferramentas.

Estavam enferrujadas mas ele as lixou, afiou e ficaram como novas. Numa das divisões do caixote encontrou um jogo de agulhas de costura e linhas de muitas cores.

Ele se pôs a trabalhar.

Nos dias seguintes, recolheu brinquedos quebrados por toda parte. Discretamente, perguntou e se informou onde morava cada criança carente da cidade.

Trabalhou arduamente até altas horas da noite. Até os seus olhos doerem, sua visão ficar embaçada e ele adormecer na cadeira.

Ao despontar o dia, acordava e continuava o seu trabalho de amor.

Na noite de natal ele saiu com vários embrulhos e foi andando, deixando em cada porta das casas das crianças da sua lista, um brinquedo. Uma boneca, um carrinho, um cavalo de pau.

A noite estava fria e ventava muito. Várias vezes ele foi e voltou, até distribuir todos os sete grandes sacos que conseguira recolher e arrumar.

Depois de uma longa noite de trabalho, o homem morreu bem cedinho no silêncio da manhã de Natal.

Quando o dia despertou, os sorrisos se multiplicaram nas casas pobres, ante a surpresa e o encanto com os brinquedos.

***

Faça deste Natal um Natal inesquecível.

Conheça aquele que deu origem ao natal.

Aquele que dá amor e alegria a milhões de pessoas.

Abra o seu coração para Jesus. Encha-se do Seu amor, da sua paz e alegria para sempre.

Aprenda, como o alfaiate da nossa história, que dar é muito melhor que receber.

Preencha sua vida com atos de amor, fazendo outras vidas felizes. Faça deste Natal o início de um Natal permanente em seu coração.

Redação do Momento Espírita