LÁZARO LUÍS ZAMENHOF

 

 

Antes de encarnar trabalhou muitos anos no Plano Espiritual coordenando um grupo encarregado de trazer à Terra aquela que seria a Língua Internacional, capaz de unir os homens em uma grande rede de amor. Nasceu em Bialystok, Polônia russa, em 15 de dezembro de 1859. Era filho de Rosália e Marcos Zamenhof, criterioso professor de geografia e línguas modernas. Iniciou o curso de ginásio em sua cidade natal, em 1869, mas adoeceu gravemente e teve de interromper os estudos. Recomeçou o ginásio em 1870, mas os pais tiveram de transferir-se para Varsóvia, em 1873, e ele ingressou no ginásio filológico, onde sempre ocupou o primeiro lugar. O menino revelou-se uma criança pensativa e muito inteligente; o professor Marcos notou nele grande interesse em relação a idiomas e começou, desde cedo, a dar-lhe lições e a exercitá-lo em línguas, percebendo que o aprendizado se fazia com muita facilidade. Assim, Zamenhof aprendeu a falar bem iídiche, russo, polonês e alemão; lia com facilidade latim, hebraico e francês; conhecia, embora mais teoricamente, grego, inglês, italiano e algumas outras línguas.
Tudo começou em 1870 na região do Império Russo, onde hoje está a Polônia. Nessa cidade retalhada, eram 4 comunidades, 4 religiões, 4 línguas, 4 alfabetos e 4 ódios, e um menino sofre as mais dolorosas feridas psíquicas, pois o simples fato de alguém exprimir-se já lhe confere um rótulo, pelo qual recebe desprezo ou solidariedade. Na 5ª série primária começou a estudar o inglês e ainda muito jovem estudou o francês e o alemão. Iniciando o curso ginasial, passou a estudar fervorosamente as línguas latina e grega, examinando a possibilidade de uma delas se constituir em língua internacional. Todavia, até a língua latina era difícil e cheia de antigas e inúteis formas. Mais simples, mais conveniente, para o uso atual deveria ser uma língua sonhada. Ela deveria ser de aprendizagem rápida e acessível também ao povo e não apenas aos letrados. O fundamento da língua sonhada deveria ser a simplicidade e a lógica.  Com fé ingênua e juvenil, o menino mete mão à obra. Pôr volta de 1876, um jovem de 17 anos conseguiria atingir tão ambicioso objetivo de criar uma língua única!  Ao concluir os estudos propedêuticos, em 1879, transferiu-se para Moscou, onde se matriculou na faculdade de medicina. Antes, porém, o jovem ZAMENHOF teve de prometer ao pai que abandonaria a idéia da língua universal, pelo menos provisoriamente, até terminar o curso de Medicina, e teve de entregar-lhe, naquele dia, os cadernos que continham os originais. Seus pais não puderam mantê-lo em Moscou e fizeram-no regressar a Varsóvia. Contava então 22 anos de idade. Durante o seu afastamento, seu pai, "prudente e rigoroso", por amor ao seu filho, temendo por seu futuro, queimou todos os manuscritos sobre a Língua Internacional. Tão logo voltou à casa paterna, procurou por seus manuscritos e, não os encontrando, perguntou à mãe por eles. A resposta materna foram apenas lágrimas e silêncio. Lázaro Luiz adivinhou tudo. Procurou o pai e pediu-lhe para desfazer a promessa, pois queria dar continuidade ao seu grandioso trabalho. Tinha guardado na memória tudo o que continham os originais queimados. Fervorosamente refez tudo. Só depois de experimentos exaustivos e comprovações minuciosas com os estudos da gramática e vocabulário intensamente vividos e testados foi que considerou pronta a sua obra. Estava nessa época com 28 anos de idade. Mas restava um último detalhe: como publicá-la, sendo sua situação financeira bastante precária? De onde viriam os recursos? Um auxílio surgiu de onde ele menos esperava. Seu futuro sogro, homem afeito à cultura, financiou totalmente a publicação da obra, e, a 26 de julho de 1887 saía da oficina gráfica o seu primeiro livro. Era uma gramática com as instruções em russo e chamava-se "LINGVO INTERNACIA", de autoria de "DOKTORO ESPERANTO". Esse pseudônimo, que, na nova língua significa "DOUTOR QUE TEM ESPERANÇA", com o decorrer do tempo, passou a ser usado por seus aprendizes, para denominar a própria língua: ESPERANTO. Pouco tempo depois eram lançadas as edições em polonês, francês, alemão, etc. Ainda em 1887, segundo livro viu a luz da curiosidade já despertada: Dua Libro de l’Lingvo Internacia de D-ro Esperanto. Os biógrafos de Zamenhof afirmam ter sido ele homem de moral superior, sereno, que nunca se irritava, e de uma energia inquebrantável diante de todas as dificuldades e obstáculos. Ao regressar para Varsóvia conheceu a Senhorita Clara Silbernik, de Kovno. Dr. Lázaro e Clara ficaram noivos com a particular simpatia do Sr. Zilbernik, pai de Clara, que também apoiou o projeto do futuro genro e, como presente de casamento, deu a ajuda financeira para a publicação da primeira edição do livro. Casaram-se em 9 de agosto de 1887. Assim, o “Primeiro Livro’’ foi lançado em 26 de julho de 1887 usando Zamenhof o pseudônimo “Doutor Esperanto”, que na nova língua significa “Doutor Esperançoso”“.


 

Aos 27 anos decide publicar o fruto de seu trabalho, mas, nenhuma editora aceita. Decide imprimir pôr sua conta própria, mas, como divulgá-la? Mas, o projeto atrai interessados. Surge uma revista na língua nascente. Leon Tostói escreve em favor do projeto, resultando a censura czarista, que proíbe a circulação da revista. A vida, porém, obedece a uma lógica diferente. Nos cinco continentes as pessoas tomam conhecimento da língua e começam a apreendê-la O livro surgiu inicialmente em russo, depois em polonês, francês, alemão e inglês, contendo um prefácio, o alfabeto, as 16 regras gramaticais, textos, poemas, o "Pai Nosso” e um vocabulário com 900 raízes.
O êxito do "Primeiro Livro" foi muito grande; no ano seguinte foi lançado o "Segundo Livro", já todo escrito na Língua Internacional que passou a se chamar Esperanto.
Zamenhof começou a receber dos leitores promessas de estudo da língua, cartas com estímulos e conselhos; em outubro de 1889 saiu à primeira lista de endereços contendo os nomes de mil esperantistas de diversos países; em pouco mais de dois anos já existiam 29 obras publicadas.
Em 1o de setembro de 1889, surgiu o primeiro número de "O Esperantista", jornal de circulação mensal, mantendo ligados os simpatizantes do Esperanto de todo o mundo e dando-lhes notícias dos progressos do movimento esperantista já internacional.
O sucesso da Língua Internacional era muito grande, mas o Dr. Lázaro ainda não conseguira se firmar profissionalmente. Os dois primeiros filhos, Adão e Sofia, já tinham nascido às despesas eram grandes, o consultório estava sempre vazio e, se aparecia alguém, era tão pobre que não podia pagar.
Espírito verdadeiramente superior, era extremamente humanitário e solidário, cultivava a tolerância e era afável com todos, nunca perdendo uma oportunidade de ser caridoso. No exercício de sua profissão agia sob o impulso do desprendimento, não obstante haver permanecido sempre pobre. Dos camponeses jamais exigia honorários, chegando mesmo a dar-lhes dinheiro e a pedir a fazendeiros ricos auxílio para o socorro de sua clientela sem recurso. Certa ocasião, após atender a crianças gravemente feridas num incêndio, inteirou-se de que o fogo havia destruído a propriedade de seus pais, reduzindo-os a absoluta miséria. ZAMENHOF deu-lhes todo o dinheiro que possuía sem se preocupar em reservar algum para o regresso ao lar em longa viagem. Recorre para esse fim a um rico cliente das redondezas, para que lhe empreste o necessário para o seu regresso. Um outro dia, no caminho que habitualmente percorre, encontra um carroceiro em prantos pela morte do seu cavalo, esgotado pelos esforços numa estrada coberta de lama. ZAMENHOF oferece-lhe 50 rublos para que o pobre homem tenha com o que comprar outro animal e assim assegurar o seu sustento. De certa feita, após assistir uma agonizante idosa, juntamente com 4 outros colegas, recusa-se a receber da família polpudos honorários, considerando que a doença culminou com a morte da paciente. ZAMENHOF sempre se dedicou a seus clientes pobres, proporcionando-lhes até o fim de sua carreira dois dias da semana para consultas gratuitas, pedindo ao seu filho ADAM, igualmente médico, que continuasse essa prática. Nos mínimos gestos e atitudes revelava-se a nobreza de seu caráter. Em Boulogne-sur-mer, França, por ocasião do 1º Congresso Universal de Esperanto, comparece, embora judeu, a uma missa do culto romano. A uma fervorosa Esperantista que lhe pede um autógrafo no recinto da Igreja ZAMENHOF sussurra: "Com muito prazer, minha senhora, mas eu lhe peço que seja em outro lugar - aqui é um lugar sagrado". Os pequeninos, os sofredores e particularmente aqueles que atravessaram a prova da cegueira, dedicavam entranhada veneração pelo bondoso oftalmologista de Varsóvia, ramo da Medicina em que se especializou, e quando ZAMENHOF visita Cambridge, para os festejos do 3º Congresso Universal de ESPERANTO, encontra-se com muitos cegos esperantistas provenientes de outros países, todos alojados numa mansão às expensas de outro grande pioneiro esperantista, THEÓFILE CART. . Zamenhof cumprimentou cada um à parte, encorajou-os ao otimismo e de todos recebeu ardorosos agradecimentos pelo idioma que lhes proporcionava uma pequena claridade em seu mundo sem luz. Mas os cegos lhe pediram outro privilégio: queriam tocá-lo com as mãos, conhecer melhor aquele que nunca poderiam ver. E suas mãos que, de forma tão extraordinária, traduzem pensamentos e emoções, tocavam respeitosamente o corpo pequeno e frágil, a barba, os óculos de lentes ovais, a larga calva do genial missionário polonês. Naquele momento, Zamenhof, profundamente emocionado, pensava nas crianças judias cujos olhos foram vazados durante um "progrom" na sua cidade natal de Bialystok. Traído por um companheiro de ideal esperantista, em quem depositava absoluta confiança, ZAMENHOF deu profundo exemplo de tolerância e amor cristão, chegando a ser criticado por outros adeptos por ter feito longa viagem ao encontro do seu ex-amigo, o traidor, só para perdoá-lo. Sua tradução do Velho Testamento, do hebraico para o Esperanto, é reputada a mais perfeita que possui a Bíblia. Suas traduções do russo, do polaco, do alemão, do francês, do inglês, em prosa e verso, são modelares. Em Varsóvia, durante a ocupação alemã, no ano de 1914 Zamenhof ficou profundamente abalado com o início da guerra mundial, adquiriu uma doença cardíaca que foi se agravando e, no dia 14 de abril de 1917, com apenas 57 anos, partiu para a pátria espiritual. No enterro de seu corpo estiveram presentes os esperantistas de Varsóvia e a população pobre do bairro judeu que ele tanto ajudou. Deixando viúva e três filhos, todos mortos pelos nazistas, em 1940. O seu corpo repousa no cemitério israelita de Varsóvia, juntamente com o de CLARA, o amor de toda a sua vida e sua incansável colaboradora. Hoje lá podemos encontrar flores ofertadas por esperantistas de todo o mundo. ZAMENHOF foi um homem iluminado, de moral superior, dotado de extraordinária força de vontade na divulgação de seu ideal humanístico. Foi um verdadeiro universalista, pacifista e pensador que lutou contra toda espécie de sectarismo. Todos os anos, no dia 15 de dezembro, realizam-se eventos esperantistas no mundo inteiro, para comemorar o aniversário do criador da LÍNGUA ESPERANTO.
 Nos dias atuais só resta um descendente de Zamenhof, Luís, seu neto, filho do Dr. Adão Zamenhof. Hoje, em todos os países civilizados, há monumentos, ruas e praças com o nome de Zamenhof, como por exemplo, a rua em que ele nasceu, em Bialystok, e em que morreu, em Varsóvia. Até mesmo um planetóide, dos milhares que se acham entre Marte e Júpiter, foram recentemente batizados com o seu nome, recebendo um outro a denominação de Esperanto.