Miguel Vives y Vives

 

 

Miguel Vives y Vives

Miguel Vives y Vives nascera em Barcelona em 1842. Aos dois anos ficara órfão de mãe e aos cinco levaram-no a Sabadell. Aos onze morre-lhe o pai, ficando sob os cuidados do seu irmão, Augusto, que sempre teve por ele um grande carinho. Aos quatorze anos de idade estudava música, executando com grande destreza. Com outros meninos formou sociedades corais. Escrevia peças musicais que vivamente despertaram a atenção dos entendidos, dada à idade do autor. Permaneceu, não obstante, em Sabadell, com seus corais dando lições de música e canto.

A Espanha foi o berço dos grandes Congressos Espíritas, tendo os espanhóis como os pioneiros nesse campo, bastando citar o Congresso Espírita Internacional de 1888, levado a efeito em Barcelona. Escreveu o livro "Guia Practica del Espiritista" — Carbonell y Esteva Editores — Barcelona-Espanha. Miguel Vives y Vives disse: "Los espiritistas tenemos un tesoro en nuestras manos". Miguel Vives dizia sempre: Não sou escritor, mas sou médium. O Calvário cristão estava na Palestina. O calvário espírita está na Espanha. Miguel Vives pressentiu, com sua sensibilidade mediúnica, a aproximação da tragédia espanhola. As palavras que dirige, no fim deste volume, à Mocidade Espírita de Espanha, são proféticas. Ele prevê as dores, os sofrimentos, a asfixia que vai cair sobre os que professam o Espiritismo em terras de Castela. Em congressos realizados posteriormente, principalmente no de 1934, a delegação espanhola desenvolveu ingente tarefa em favor da tese reencarnacionista. Anteriormente à guerra civil de 1936 a 1939, a Espanha se destacava, de forma inusitada, na divulgação do Espiritismo, bastando dizer-se que já em 1873 havia sido proposto no Parlamento Espanhol o ensino da Doutrina Espírita. Miguel Vives y Vives foi um dos mais destacados vultos do Espiritismo naquele país. Seu nome teve projeção mundial e sua ação foi das mais notórias. E ensina, aconselha, adverte: "Confiemos n’Ele, Juventude Espírita, e não desmaiemos no caminho!". Em "O Tesouro dos Espíritas", Miguel Vives y Vives, confessa: Que era eu, antes de ser espírita? Uma criatura ignorada e completamente incapaz. Tanto assim que me achava perdido na mais crítica e miserável situação em que um homem pode encontrar-se, nos mais formosos dias de sua juventude. Perdera a saúde, os amigos se haviam afastado de mim, não tinha forças para trabalhar, fiquei cinco anos sem poder sair de casa. Tal era o meu estado, que se não fosse à proteção dos pais de minha primeira esposa, aos quais nunca serei suficientemente grato, teria de recolher-me a um hospital. Cinco anos já haviam decorrido, em que esta situação perdurava, quando meus cunhados se mudaram de Sabadell, onde eu havia vivido desde criança, para Tarrasa. E, mais por misericórdia, do que por qualquer outro motivo, me levaram com eles, para ver se a minha saúde mudaria. Estávamos no ano de l87l. Depois de seis meses de minha permanência em Tarrasa, voltei um dia a Sabadell, e meu irmão carnal me falou de Espiritismo. A princípio, o assunto me pareceu muito estranho. Mas, como me falava de maneira grave, e eu conhecia a sua seriedade e retidão em todas as questões de sua vida, compreendi logo que havia algo de verdadeiro no que me dizia. Pedi-lhe algumas explicações, e ele, por única resposta, mandou-me as obras de Allan Kardec. Li as primeiras páginas e compreendi que aquilo era grande, sublime, imenso, foi questão de um momento. Deus meu! — exclamei — o que se passa comigo? Então, eu, que já havia renunciado a tudo, agora percebia que tudo é vida, que tudo é progresso e que tudo é infinito? Caí prostrado e admirado perante tanta grandeza, e tomei a decisão de ser espírita de verdade, estudar o Espiritismo e empregar todas as minhas forças na propagação de uma doutrina que me havia restituído à vida e me havia ensinado, de maneira tão clara, a grandeza de Deus. Comecei a estudar e a propagar o Espiritismo. Com alguns irmãos, fundamos o Centro Espírita de Tarrasa: Fraternidade Humana. Como, durante a minha enfermidade, me havia dedicado, nos intervalos que os meus sofrimentos me concediam, a estudar Medicina, comecei a curar enfermos. E foi tal a proteção que me envolveu, que muitas vezes os enfermos eram curados antes de tomarem os remédios, podendo eu citar alguns casos dessas curas surpreendentes. Como minha propaganda espírita produzia efeitos, conquistava cada dia novas adesões, e começavam a manifestarem-se ódios implacáveis, contra mim. Antes de me tornar espírita, era incapaz de pronunciar uma pequena oração para uma dúzia de pessoas. Como espírita, adquiri uma coragem e uma serenidade tais, que nada me impressionava nem me impressiona ainda. Para dar uma idéia da minha mediunidade, direi o seguinte: Fui médium de incorporação, semi-consciente, por dez anos, durante esse tempo, não participei de uma só reunião em que não recebesse comunicação, gozando durante esses dez anos de uma saúde bastante regular. Depois disso, por causa de uma doença, fui impedido de freqüentar as reuniões, tive de deixar a mediunidade por uns quatro meses, único período de tempo, aliás, em que deixei de participar dos trabalhos, como médium ou como diretor de sessões, nos trinta e dois anos que sou espírita. E ainda hoje minha inspiração é tão potente e tão clara, que basta estar numa sessão, para que me sinta inspirado e possa falar por todo o tempo necessário. Para dar uma prova disso, vou contar o que se passou nas vésperas do Natal de um dos meus últimos anos. Eu havia dado uns vinte e cinco dias atrás, uma comunicação muito extensa e expressiva, sobre um dos pastores que foram adorar o Messias na entrada de Belém. Essa comunicação causara grande impressão aos irmãos presentes no Centro Espírita de Tarrasa, naquela época. Dias antes do Natal a que acima me referi, uma dos irmãos que ainda se recordava do caso me falou da mensagem. Senti vontade de tê-la, e foi o quanto bastou para ser impulsionado e me por a escrevê-la. Em duas horas obtive de novo, e tão igual, que aqueles que haviam escutado na primeira vez exclamaram admirados: — É idêntica! não falta nenhum conceito, nenhum detalhe! Conto isto para mostrar o poder da mediunidade. Dona Amália Domingo Soler foi companheira de trabalho de Miguel Vives y Vives e só quando assistia as reuniões presididas por Miguel Vives, que residindo em Tarrasa costumava visitar Villa de Gracia, tinha a Sr.a Amália a oportunidade de "enche-se de inocente alegria". As comunicações obtidas através de suas faculdades, pareciam retroceder aos tempos de Cristo, criando uma atmosfera de tranqüila humildade inigualável. A mediunidade de Sr. Miguel Vives y Vives deu-lhe a primeira comunicação familiar. Sua mãe, sua doce e bondosa mãe, se manifestou em uma reunião realizada na própria casa do médium, em Tarrasa. Em comovedora manifestação, afirmou-lhe que estava sempre ao seu lado, viva e presente, auxiliando-a, inspirando-a como quando na terra viviam juntas, partilhando infortúnios. Enquanto o médium falava, Amália sentia o calor da vida. Esse calor há muito faltava em sua alma atribulada, sem saber como prosseguir a luta pela vida na encruzilhada em que fora posta. No ano de 1869 é acometido por uma enfermidade que o manteve inativo por quatro anos. Suspendeu então os seus estudos por completo. Em l871, levaram-no para Tarrasa, onde residiam uns seus parentes, procurando, na mudança do clima a recuperação de sua saúde. Em momentos difíceis de sua vida, quando já pensava mais na morte do que na recuperação, veio a conhecer o Espiritismo. Sua doutrina transmite-lhe uma forte e benéfica impressão. Lançando mão da cura espírita, melhora e abandona o leito. Casou-se duas vezes, (em segundas núpcias com uma senhora espírita) e começa a receber em sua casa vários seguidores desse ideal, dando início às sessões que ofereceram bons frutos. Em 1872 fundou o Centro Espírita que recebeu o sugestivo nome de Fraternidade Humana. Enquanto isso estudava o tratado de Hehnemann e, empregando a homeopatia, obtém curas notáveis, o que lhe criou rivalidades encarniçadas com os médicos da localidade, a casta clerical e os inimigos do progresso. Chamavam-no de ingênuo e infantil quando dizia que era possível curarem-se os doentes através do auxílio espiritual: Em seu caso a ciência fora incapaz de obter bons resultados. Apesar dos ataques, prosseguiu pregando o ensino dos espíritos, inaugurando na Espanha sessões públicas em salões de Tarrasa. Sr. Fernández Colavida dizia que era tão bem assistido espiritualmente que tudo que fazia para divulgar o seu ideal, dava bons resultados. "Está rodeado de bons espíritos" dizia. E naturalmente haveria de ser assim, pois que até nas peças teatrais que escreve, ensina a doutrina dos espíritos a uma multidão inculta, animada apenas pela curiosidade e pelo desejo de divertir-se. Não obstante os assistentes escutam com atenção e aplaudem com entusiasmo. Somente muitas forças reunidas podem dominar tantas e tão diversas inclinações: Trabalhou intensamente em Tarrasa durante alguns anos, empregando com todo o proveito, sua palavra fácil, que advogava em favor dos pobres. Era dotado de um espírito de caridade exemplar e ensinava com carinho, tornando inesquecíveis as suas lições espíritas. Em 1891 transferiu residência para Barcelona, buscando melhores ares para a sua saúde algo alquebrada. Nos primeiros dias do ano seguinte, foi eleito Presidente do Centro Barcelonês de Estudos Psicológicos onde, não obstante seu precário estado de saúde prossegue na propagação do seu querido ideal. Costumava reunir os pobres em grandes refeições fraternais, nas quais não faltavam os manjares que recompunham o físico, enquanto com sua eloqüência oferecia o manjar do espírito, a fé perdida, a sede de amor, a necessidade da paz interior. Quando sua filha Michela se casou, um cortejo de centenas de mendigos acompanhou os noivos, oferecendo-lhes sua proteção. Em 29 de setembro de 188l, quando da. Amalia Domingo visitava Tarrasa, o filho de Sr. Miguel, um vivo garoto de seis anos, apresenta-se trazendo nas mãos, orgulhoso e alegre, uma carta. Era um agradecimento dos presos do cárcere de Tarrasa, com felicitações pelo onomástico de Sr. Miguel, a que chamavam "protetor" pelas muitas atenções que a eles prodigalizava, fazendo menos triste e aflitiva a condenação que suportavam. Nesse dia Sr. Miguel Vives y Vives mandava servir uma abundante refeição a todos os detidos e conseguira, além disso, a promessa do alcaide de que esta se realizasse em um local cômodo e em ambiente de alegria. Em seu lar, perto de quarenta pessoas rodeavam-no, à mesa: entre anciãos, meninos, cegos e enfermos, em uma corte fraternal.

Terminada a refeição, todos eram beneficiados pela palavra do Evangelho. Uma dessas reuniões foi descrita em Luz, porém nunca as inflexões da voz, a expressão de seu olhar, as lágrimas que rolavam em todos os olhos, naquela ágape divina. Quando passou ao mundo espiritual, Sr. Miguel Vive y Vives, um ser de valor excepcional, recebeu do povo emocionado as mais sentidas homenagens. Diz-se que uma muralha de pessoas se estendia dos dois lados das ruas por onde passava o féretro e que as fábricas e oficinas fecharam suas portas para que os operários assistissem em silêncio respeitosos e lágrimas a homenagem prestada àquele que foi chamado, a justo título, "Apóstolo do Bem". Sr. Miguel Vives y Vives deu a Sra. Amália Domingo uma comunicação espiritual de sua mãe, que ela tomou com muita esperança.