Perante a morte

 

Certo dia, o homem se levanta e vai até a mesa do café. Todos se servem mas ninguém o serve. Ignoram-no.
 
Magoado, ele se dirige ao escritório e descobre, contrariado, que no seu gabinete tudo foi mudado: a placa na porta tem outro nome. A mesa, as cadeiras, os papéis tudo está disposto de forma diversa.
 
O homem fala, exige, questiona. Mas ninguém o ouve, nem lhe dá atenção.
 
Então ele retorna para casa. Verifica que os livros que tanto preza, verdadeiras preciosidades, estão empilhados no chão, alguns em caixas, como à espera de serem despachados para algum lugar. Novamente ele pergunta, interroga mas as pessoas o ignoram.
 
Estas cenas ocorrem a muitas pessoas, todos os dias.
 
Surpreendidas pela morte, em plena atividade, guardam a impressão de prosseguirem no corpo de carne. Não se dão conta de que realizaram a viagem para o mundo espiritual e que vivem sim, mas em outra dimensão, em um corpo diferente.
 
E por que isso ocorre com tanta freqüência?
 
Porque, de modo geral, não nos preparamos para o transe da morte.
 
Tratamos a morte como uma irrealidade, algo distante que atingirá os outros, não a nós, nem os nossos amores.
 
Alguns lhe temos verdadeiro pavor e sequer mencionamos a palavra.
 
Quando alguém levemente se refere ao assunto, de imediato contestamos que é cedo. A morte é para os doentes terminais, os idosos dependentes, aqueles que não têm maior utilidade.
 
Contudo, a morte é lei natural. A todos atinge, sem exceção. Lei divina, objetiva a evolução, através da transformação das formas.
 
Importante que nos preparemos para recebê-la com dignidade quando nos chegar, ou vier tomar de assalto os nossos afetos.
 
Aprendamos a encará-la como algo que certamente nos chegará um dia. Ninguém, em nível material, é eterno. Somente o espírito imortal a tudo sobrevive e, transposto o portal da tumba, se prepara para o retorno em novo corpo, em outra roupagem, em nova etapa reencarnatória.
 
Em essência, morte é vida, pois o que perece é somente a carne, sobrevivendo vitorioso o espírito. Não é castigo, mas abençoada oportunidade de aprendizado onde as emoções são testadas, a fé e a perseverança lançam balizas profundas no ser que amadurece, aos embates da dor da separação dos seus afazeres e dos seus amores.
 
Sábio é aquele que vive cada dia como se fosse o único, o que equivale a dizer, que realiza tudo que possa e da melhor forma, como se outro dia não houvesse. Mas quando o outro dia chega, tudo recomeça com a mesma disposição de aproveitamento da chance inigualável de mais um dia na carne.
 
Você sabia?
 
Você sabia que se começa a morrer desde que se renasce na carne?
 
E que a morte pode ser considerada como um momento de prestação de contas, de exame das lições aprendidas e realizadas durante a vida física?
 
E você sabia que a morte não apaga a memória, nem os sentimentos?
 
Portanto, tanto quanto nós, os nossos queridos que morreram, amam e sentem saudades.
 

Redação do Momento Espírita