Sons que curam 2
Como já comentamos, cada um deve viver sua própria história e experiência com a música. É nosso querido Millecco quem observa:
“Acreditamos que a principal função da música esteja relacionada com a necessidade humana de expressar seu mundo subjetivo.” [1]
As emoções e sensações, a nos envolver, a emanar de nós, provocarão o turbilhão interno capaz de desvendar um encontro mágico com nosso “eu”. E essas emoções têm nuances e movimentos que estão à margem de uma descrição discursiva. É uma outra forma de linguagem, um esperanto de emoções.
A esse respeito Suzane Langer diz:
“As estruturas tonais que chamamos música guardam uma íntima semelhança lógica com as formas do sentimento humano – formas de crescimento e atenuação, fluência e alentamento, conflito e resolução, velocidade e parada, excitação e calma, ou ativação sutil e lapsos de sonho – não alegria ou tristeza, mas a pungência, a brevidade e a eterna fugacidade de tudo que é vitalmente sentido. (...) A música é um análogo tonal da vida emotiva.” [2] (p. 54-55).
Destaca-se a preocupação dos musicoterapeutas no que concerne a adequação musical. Daí a importância de se conhecer a “Identidade Sonoro-musical” (ISo) do paciente ou usuário. Benenzon assim define:
“ISo é um fenômeno de som e movimento interno que resume nossos arquétipos sonoros, nossas vivências sonoras gestacionais intra-uterinas e nossas vivências sonoras de nascimento e infantis até nossos dias.” [3] (p. 26).
A partir da experiência pessoal, da necessidade musical individual, temos delineado um quadro específico e original como nos afirma Jourdain:
“A música só pode ajudar um paciente com Parkinson se for de um tipo que corresponda ao gosto desse paciente. A música clássica poderia fazer maravilhas, num caso, enquanto em outro caso só música country teria algum efeito.[4]
Vejamos algumas sugestões de Lingerman[5] e outros:
– Músicas que inspiram o bom humor e alegria:
· J. S. Bach – Suítes para orquestra.
· Mozart – Uma brincadeira musical.
· Tchaikovsky – Dança da fada de açúcar (da Suíte quebra-nozes).
– Músicas fúnebres:
· Schubert – Ave-Maria.
· R. Strauss – Morte e transfiguração.
· Mendelssohn – Seleções (de Elias).
– Músicas celestiais:
· Beethoven – Concerto para piano nº 5 (Imperador), 2º movimento.
· Mozart – Laudate Dominum, Salmo 116, Concerto para piano Nº 21.
· Händel – Hallelujah Chorus (do Messias).
– Músicas de amor a Deus e ao Cristo:
· Wagner – Parsifal (Lenda do Santo Graal).
· J. S. Bach – Jesus, alegria dos homens.
· Vivaldi – Glória.
– Músicas para o lar e a família:
· Debussy – Clair de Lune.
· Chopin – Polonaises.
· Mendelssohn – Sonho de uma noite de verão.
– Músicas para atividades construtivas:
· Beethoven – Sinfonia nº 6 (Pastoral).
· Liszt – Rapsódias húngaras.
· Mozart – Concerto para piano nº 21.
– Músicas para liberar a energia dos filhos (das crianças):
· Prokofiev – Pedro e o lobo.
· Villa-Lobos – O pequeno trem do caipira (das Bachianas Brasileiras nº 2).
· Diamond – Jonathan Livigston Seagul (Fernão Capelo Gaivota).
– Música para insônia:
· Massenet – Meditação (de Thaïs).
· Brahms – Acalanto.
· J.S.Bach – Ária para a corda de Sol.
– Músicas para metas diárias:
· Vivaldi – Concertos para flauta.
· Bach – Concertos para cravo.
· Mozart – Concerto para clarineta.
– Músicas para refeições e boa digestão:
· Händel – Concertos para harpa.
· Mozart – Concerto para flauta e harpa.
· Chopin – Concerto para piano nº 1 (2º movimento).
– Músicas para acalmar a raiva:
· Schubert – Prelúdio para Rosamunda.
· Bach – Dois concertos para dois pianos.
· Händel – Concerto para harpa.
– Músicas para superar o medo e a depressão:
· Beethoven – Concerto para piano nº 5 (O Imperador).
· Mozart – Sinfonia nº 35 (Haffner).
· Mendelssohn – Sinfonia nº 4 (Italiana).
– Músicas para aliviar o tédio:
· Liszt – Rapsódias húngaras.
· Prokofiev – Tenente Kije.
· Mozart – Mozart para flauta Koto.
– Músicas para força e coragem:
· Brahms – Sinfonia nº 2 (mov. Final).
· R. Strauss – O nascer do sol (de Assim falava Zarathustra).
· Berlioz – Harold na Itália (3º e 4º mov.).
– Musicas para relaxamento:
· Zamfir – Romantic flute of Pan.
· Vivaldi – Concertos para oboé.
· Wagner – Estrela Vésper (de Tannhäuser).
A lista proposta limitou-se a três composições por caso. Utilizamos, também, como sugestão, autores mais conhecidos cujas peças ofereçam fácil acesso.
Gostaríamos de sugerir a leitura deste trabalho de Lingerman, uma vez que ele comenta a obra de cada autor, além de muitos outros não enumerados aqui; fala também sobre suas pesquisas e percepções no que diz respeito aos efeitos produzidos por cada canção, e como ele compilou esses dados; e pela riqueza da obra em geral.
[1] MILECO FILHO, Luis Antônio et al. È preciso cantar – Musicoterapia, cantos e canções. Rio de Janeiro: Enelivros, 2001.
[2] LANGER, S. (in: MUGGIATI, Roberto. Rock – o Grito e o Mito. Ed. cit.).
[3] BENENZON, Rolando, Manual de Musicoterapia. Rio de Janeiro: Enelivros, 1985.
[4] JOURDAIN, Robert. Música, Cérebro e Êxtase. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.
[5] LINGERMAN, Hal A. As Energias Curativas da Música. São Paulo: Cultrix, 1983.